segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Gostaria de compartilhar um texto de um amigo que se formou comigo na faculdade de História, vale a pena conferir sua reflexão.


No dia 13 de Maio de 1888 um fato histórico foi comemorado em todo o Brasil, este fato então revelou aos brasileiros uma mudança grandiosa: agora não mais seríamos uma sociedade escravista, os negros não viveriam mais sob o julgo dos capatazes. Mudamos, a partir daí, uma questão fundamental, a questão da liberdade para quem até então era visto como ser humano de segunda categoria e unicamente viável como força de trabalho duro. Prometemos uma nova sociedade, baseada no mérito e na força de vontade, uma sociedade que exigiria deveres, mas que agora daria direitos para todos. Esse foi o sonho da República, assim nossos líderes receberam um novo século, cheios de otimismo e bem-aventuranças. Mas o que se viu não foi exatamente algo assim tão justo, os negros ex-escravizados tiveram que migrar das senzalas para os morros, construindo suas casas com aquilo que lhes era possível. Tiveram que continuar fazendo o trabalho pesado, sem ter acesso às melhorias do novo sistema. Foi assim, de forma resumida, que se constituíram as favelas em todo o Brasil, e no Rio milhares de pessoas foram empurradas morro a cima no intuito de esconder os frutos de uma sociedade desigual. Enquanto o requinte e a ostentação divulgavam mundialmente a cidade maravilhosa, uma massa de anônimos a transformava numa cidade perigosa.

Assim os morros cariocas se tornaram a prova mais cabal da indiferença nacional para com os pobres, e o governo, de forma hipócrita, prometeu novamente o que a República deveria ter realizado cem anos atrás: o respeito pela vida humana, a inclusão e a igualdade. O que ensinaram, no entanto, foi o contrário, ensinaram que quem vivia ali não seria respeitado, mas sim julgado como a escória da sociedade por aqueles que se sentiam incomodados em dividir a paisagem da baía de Guanabara com seres indesejados. O racismo inerente a essas relações, a indiferença e o descaso foram o combustível para o nascimento de uma grande quantidade de inimigos da paz, que por sinal nunca existiu. Formou-se então um exército que se valeu do tráfico de drogas para conquistar aquilo que a televisão propagou como felicidade. Este exército anti-social passou a ser o outro lado da moeda, o lado B da elite mau caráter herdeira de senhores de escravos. E agora vemos em alta definição o desenrolar de um problema histórico descrito como a busca da paz, uma paz tão longínqua que deveríamos ter vergonha em pronunciá-la. Vergonha é o que também deveríamos sentir ao hastear nossa bandeira num lugar que contradiz completamente a frase “ordem e progresso”. A paz que se busca através do sangue nunca será uma realidade, enquanto não reconhecermos nossas mazelas como fruto de nossa história e não da simples maldade do povo, continuaremos sendo reféns de nossa própria ignorância e falta de compaixão. Vamos continuar a nos esconder atrás de cercas eletrificadas e esperar que grupos fortemente armados nos entreguem a paz com que tanto sonhamos, sem jamais acordar.



Vinícius Macias de Barros

vm_barros@hotmail.com

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